2012.n°10. Romaria no Pará

Romaria da terra ,
Eu participei dois anos seguidos na caminhada de solidariedade da Irmã Adelaïde Molinari, da Congregação das Filhas do Amor Divino, assassinada por ter ensinado a viver o evangelho, o respeito dos direitos humanos, a justiça.
A Congregação das Filhas do Amor Divino foi fundada em 1868, na Áustria, na cidade de Viena, por Franscisca Lechner.
A Congregação cresceu e espalhou-se primeiro na Europa, depois nos Estados-Unidos e mais tarde no Brasil, em primeiro no Rio Grande do Sul e depois no Rio Grande do Norte.
As Filhas do Amor Divino chegam no Brasil no ano de 1983.
       Irmã  Adelaide  Molinari
Neste ano de 1983, quando a presença das Irmãs foi solicitada para diocese de Marabá, no Estado do Pará, Irmã Adelaïde preparou-se para assumir a missão de coordenadora de uma comunidade de três Irmãs em Eldorado de Carajás (aos duzentos quilômetros de Palestina do Pará).
Visitando muitas famílias, organizando os encontros da comunidade eclesial, participando com mães e crianças num trabalho de acompanhamento, realizando, com as irmãs da sua comunidade religiosa, muitas atividades junto com o povo... Esta comunidade vive realmente no coração de Eldorado a sua missão apostólica.
No domingo, dia 14 de abril de 1985, pela 15,00 horas, Irmã Adelaïde estava falando com um Delegado sindical dos Trabalhadores Rurais, Arnaldo Delcidio, na rodoviária de Eldorado de Carajás, quando ela foi vítima de uma bala no peito.
O sangue desta mártir, derramado em terra paraense, veio unir-se ao sangue de tantos outros que no seguimento Jesus Cristo testemunham do dom da vida por amor dos irmãos, da luta para que o direito dos pobres seja respeitado: direito à terra, direito ao respeito da natureza, da floresta, dos homens. Foram eles Irmã Dorothy, Padre Josimo  e tantos outros que, como este casal perto de Marabá no ano passado,  foram assassinados  pela  mesma razão da falta de justiça.
No seguimento deste trágico acontecimento, uma romaria de solidariedade fica organizada todos os anos em Eldorado de Carajás. É um tempo de celebração na memória da Irmã Adelaïde na Igreja de Eldorado pelas 21,00 horas e depois, durante a noite, uma caminhada de trinta quilômetros até à cidade de Curionópolis, o lugar da sepultura da irmã; a romaria encerra de manhãsinha com uma celebração da Eucaristia na igreja de Curionopolis.
      Irma Adelaide viveu para ensinar a solidariedade  e a justiça
Eu percebo, em cada caminhada de solidariedade, que o dom de si mesmo não tem limitas bem como é importante de estar perto do povo vitimo das injustiças e assim ficar em solidariedade em nome do evangelho, perto de meus irmãos e irmãs sofridos.
Com as famílias, sem terra e sem casa, como viver aqui nesta região da Amazona?  Qual é o significado da evangelização neste contexto de violência, de grande injustiça?
Tenho participado, com Irmão Joel, numa celebração Eucarística num acampamento de trabalhadores rurais sem terra, perto de Palestina do Pará. Aí estão umas famílias que conheci antes em encontros bíblicos com vizinhos da nossa casa de irmãos.
Procuro imaginar, o que estes famílias (crianças, jovens, adultos) podem ressentir quando, sem água, nem eletricidade, nem escola e posto de saúde, não sabem o tempo em que vão esperar a terra! São condições de vida muito precárias com só um ônibus diário para levar os alunos na escola.
Como não ficar emocionado diante do olhar das crianças e adultos vivendo nesta situação muito precária do acampamento de Palestina do Pará?
Em nome da fé, não se pode ficar silencioso diante destes realidades de pobreza! De injustiça!  Jesus nos ajuda a testemunhar da sua presença, sua palavra de luta, de esperança, de libertação. Jesus, amigo dos necessitados.
Irmã Adelaïde tinha muito bem percebido o significado teológico da esperança: uma presença perto do povo que luta para viver em nome de Jesus homem-Deus, uma presença de vida religiosa apostólica, inserida numa região marcada pela resistência das famílias suportando muita violência.
     O massacre de Eldorado de Carajas
      Aos 19 abril de 1996, aconteceu outro tragédia quase no mesmo lugar, essa marcou toda a região Amazona. Foi o assassinato de 19 trabalhadores rurais e 75 machucados em Eldorado de Carajás. Impensável: foram 153 policiais inocentados, só dois oficiados foram condenados, mas  depois relaxados.
Estive presente, neste ano no aniversário deste drama. Foi antes de participar pela segunda vez na romaria d’Adelaïde onde foram celebrados os mártires da terra com a participação de  Dom José, Bispo de Maraba e outros padres do diocese.
Em 1985, Dom Alano Maria Pena, então Bispo de Marabá, em visita ao Papa João Paulo II falando da Irmã Adelaïde Molinari, ouviu de Sua Santidade a seguinte frase: “Irmã Adelaïde é mártir da justiça”.
Eu encontro muitas vezes as Irmãs da Congregação d’Adelaïde em Curionópolis, pois elas trabalham  com as plantas medicinais, encontro-as igualmente em Marabá nas reuniões da Pastoral Social.
È, caminhando juntos que aqui  aprendo a perceber no meio destas realidades, qual atitude é evangélica, qual é a palavra, o tipo de presença que vão testemunhar da vida de Jesus- Cristo.
Quanto é importante agradecer a Deus pela natureza e os frutos desta terra, trabalhar com respeito os direitos humanos de cada família morando nesta terra em via de libertação.
A paz esteja conosco: Jesus é Resuscitado e vive no meio de nós!

                                    Ir. António.

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